terça-feira, 24 de outubro de 2017

O ator australiano que interpreta o super-herói Wolverine há 13 anos diz que usa poucos dublês e ganha de seis a oito quilos de músculos antes de cada filme

O ator australiano que interpreta o super-herói Wolverine há 13 anos diz que usa poucos dublês e ganha de seis a oito quilos de músculos antes de cada filme

 HUGH JACKMAN

“Tenho medo de me machucar”

RECORDE 
Hugh Jackman interpreta Wolverine pela sexta vez: cachê de US$ 20 milhões
Ao contrário de seu conterrâneo Russell Crowe, conhecido pelo temperamento explosivo na relação com as pessoas, o australiano Hugh Jackman, 44 anos, é tratado em Hollywood como “Mr. Nice Guy” (Senhor Simpatia). Isso acontece mesmo tendo adquirido notoriedade como um dos personagens mais estourados dos quadrinhos, o mutante Wolverine, que ele vive pela sexta vez batendo o recorde de ator que mais interpretou um papel de HQ nas telas. Foi graças ao super-herói dotado de garras de aço e espessa costeleta, cuja nova aventura estreia na sexta-feira 26, que Jackman ingressou no seleto clube dos atores com cachê na casa dos US$ 20 milhões. O título de “mutante mais sexy do cinema” ainda veio de bônus, por estar sempre exibindo o tórax esculpido. “Não é brincadeira ter de ganhar entre seis e oito quilos de músculos antes das filmagens”, conta o astro. Criado apenas pelo pai, já que sua mãe deixou a família quando ele tinha 8 anos de idade, Jackman valoriza bastante a convivência com os filhos. Os dois – Oscar, de 12 anos, e Ava, de 7 anos – são adotados. Ex-apresentador do Oscar, que comandou em 2009, ele testou o prazer de estar entre os concorrentes este ano pelo papel do rebelde Jean Valjean de “Os Miseráveis”. A indicação abriu caminho para atuações mais sérias, mas Jackman gosta de trabalhar mirando o público adolescente: “Na verdade, sou uma criança presa em corpo de adulto”. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida com exclusividade à ISTOÉ em Londres, na Inglaterra.
"Não consigo ser grosseiro quando me pedem autógrafo. 
Minha vida parece férias se comparada à de Brad Pitt "

“Russell Crowe indicou o meu nome quando 
recusou o papel de Wolverine. Sem esse
empurrãozinho certamente não estaria aqui hoje"
Fotos: divulgação
ISTOÉ –
Após uma vida sem grandes luxos, o sr. é hoje dono de um cachê de US$ 20 milhões. Isso mudou a sua relação com o dinheiro?
 
Hugh Jackman –
Não me envergonho de ganhar bastante pelo meu trabalho e faço tudo para merecê-lo. Dinheiro bom é aquele que vem do nosso esforço, não o dinheiro dado.
ISTOÉ –
Essa atitude é um reflexo das condições modestas de sua infância?
 

Hugh Jackman –
Sim. Não consigo entender como o meu pai, que era contador, criou crianças sozinho. Nossas férias se resumiam a acampar na praia, com seis pessoas numa barraca. Ele cozinhava para toda a família num fogãozinho a gás e, no resto do tempo, tinha de apartar as brigas dos filhos. Aprendi com o meu pai o que é verdadeiramente ser uma família.

ISTOÉ –
Como faz para passar esses valores aos seus filhos?
Hugh Jackman –
Procuro levá-los a lugares menos favorecidos do planeta, como o Camboja e a Etiópia. Isso é fundamental para que entendam o quanto são privilegiados pela vida que têm. Quando era criança, não tive o que posso dar a eles.

ISTOÉ –
Algum deles já demonstra interesse em seguir os passos do pai?
Hugh Jackman –

Oscar pediu para fazer figuração em “Austrália”, mas detestou a experiência apesar dos 320 dólares australianos que ganhou pela sua participação. Ele trabalhou durante quatro dias numa cena de travessia, em que caminhava no meio de uma multidão, sob um calor de mais de 30 graus. Sua atuação se limitava a andar para lá e para cá. Ao final, ele me disse: “Pai, você tem o trabalho mais chato do mundo”.
ISTOÉ –
Já são 13 anos interpretando Wolverine. Como explica essa longevidade no papel?
Hugh Jackman –

Não sei como me deixaram ir tão longe. O problema é que, a cada novo filme, tenho mais medo de me machucar nas cenas de ação.
ISTOÉ –
Mesmo com toda a sua forma física, já começa a se sentir limitado pela idade?
Hugh Jackman –

Sim, principalmente agora que já passei dos 40 anos. Nessa última filmagem eu quase quebrei meu pescoço. A cena se passava em um trem em alta velocidade. Eu tive de colocar a cabeça para fora da janela e o meu pescoço ficou preso. O acidente me obrigou a encerrar o dia mais cedo. Minha esposa (a atriz Deborra-Lee Furness) olhou para mim e disse: “O que está fazendo? Chega de brincar no pátio da escola. Você não é invencível”.
 
ISTOÉ –
Não seria o caso de recorrer mais a dublês?
Hugh Jackman –
Eu uso dublê só nas cenas extremamente perigosas. Jim (o diretor James Mangold) acha que a ação é uma extensão da personalidade de Wolverine. Por isso, sempre que possível, prefere que eu dispense o dublê.
ISTOÉ –
Esse aspecto físico do personagem é o lado mais pesado de sua atuação?
Hugh Jackman –



Claro. Cenas de ação, incluindo as de luta, sempre me deixam com fortes dores no dia seguinte. O treinamento a que me submeto antes de rodar também acaba comigo. Não é fácil acordar às quatro horas da manhã para se exercitar. Comer peito de frango sete vezes por dia é outra coisa que me deixa louco.
ISTOÉ –
Seu apelido em Hollywood é Mr. Nice Guy (Senhor Simpatia). Não é uma contradição com o lado soturno e até explosivo do personagem?
Hugh Jackman –
Eu entendo de Wolverine como ninguém. Desde criança, aprendi a controlar a raiva. Como sou caçula numa família de cinco irmãos, cresci com os mais velhos sempre implicando comigo. Imagina como desejei ter garras de aço para poder acabar com eles.
ISTOÉ –
De onde vem a fama de bonzinho? 
Hugh Jackman –


Acho que pelo fato de meu pai ter me ensinado a tratar todas as pessoas com respeito. Não vejo motivo para fazer o contrário. É mais fácil ser educado do que ser idiota. Essa é a minha natureza. 
ISTOÉ –
Quando os paparazzi o perseguem, registram sempre um pai de família exemplar, brincando com os filhos. Gosta dessa imagem? 
Hugh Jackman –

Meus dias em família não são tão perfeitos, ainda que as fotos deem essa impressão. Na verdade, sou uma criança presa em corpo de adulto. Adoro ser pai justamente por me dar o que preciso: licença para brincar o tempo todo.  
ISTOÉ –
Esse assédio não o incomoda? 
Hugh Jackman –


Não vejo problema. Ele só fica muito pronunciado quando estou lançando um filme. É como uma avenida que registra congestionamento uma vez por mês. No resto do tempo, o trânsito é ok. Minha vida parece férias se comparada à de Brad Pitt. Quanto aos fãs, não consigo ser grosseiro quando me pedem autógrafo. O que custa atender? Quando estou com a família e não posso dar atenção, peço desculpas. 
ISTOÉ –
O que o deixa estressado? 
Hugh Jackman –


Não sei. Ter sido criado com irmãos bagunceiros me tornou uma pessoa tranquila, mesmo quando em volta está um caos. 
ISTOÉ –
O que diria para as pessoas que o definem como “bom demais para ser verdade”? 
Hugh Jackman –
Tenho vários defeitos. Um deles é não saber consertar nada em casa. A única coisa boa é que estou sempre por perto quando aparece um problema doméstico para resolver. Sou um péssimo faz-tudo. Só sirvo para colocar o lixo para fora de casa. 
ISTOÉ –
Na origem, os mutantes da série “X-Men” (da qual Wolverine faz parte) eram uma referência às minorias. Acha que continua atual? 
Hugh Jackman –


Quando a história em quadrinhos foi escrita, tratava-se de uma alegoria a Malcolm X e Martin Luther King e à forma como eles abordavam o movimento pelos direitos civis. Numa leitura mais ampla, a HQ trata das minorias e nos ensina a aceitar quem somos e a respeitar a individualidade. Nela estaria a força de cada um, não a fraqueza. 
ISTOÉ –
Isso explica por que a série é tão cultuada entre o público adolescente? 
Hugh Jackman –
Acredito que sim. O adolescente sofre em silêncio por ainda estar descobrindo quem é. Tenho um filho prestes a fazer 13 anos e vejo isso acontecer. Parte dele não quer ser diferente dos outros. No mundo de hoje, ainda é duro ser um adolescente à procura de identidade, especialmente se ele for homossexual ou pertencer a alguma outra minoria. Como pai, eu me senti na responsabilidade de presentear meu filho com os quadrinhos de “X-Men”. 
ISTOÉ –
Foi falta de sorte concorrer ao Oscar deste ano com Daniel Day-Lewis, protagonista de “Lincoln”?  
Hugh Jackman –
Antes da entrega, as pessoas começaram a me dizer para não ficar chateado se perdesse. Confesso que não entedia aonde queriam chegar. Para ser sincero, sempre pensei que minha relação com o Oscar seria, no máximo, a de um mestre de cerimônias. Daniel é um dos maiores atores de todos os tempos e concorrer com ele já foi uma vitória.
ISTOÉ –
É o que todos os indicados não premiados costumam dizer. 
Hugh Jackman –
É um clichê, mas é pura verdade. Este ano nós fomos premiados com um almoço no dia anterior à festa, algo que nunca havia acontecido na história do prêmio. O presidente da Academia reuniu todos os atores e atrizes indicados, tanto na categoria principal quanto na de coadjuvante. Fomos todos à casa do ator Ed Begley Jr., que cozinhou para nós. Foi surreal estar à mesa com Daniel Day-Lewis, Robert De Niro, Alan Arkin, Tommy Lee Jones, Joaquin Phoenix e outros. 
ISTOÉ –
Sobre o que conversaram? 
Hugh Jackman –
Foi um pouco estranho nos primeiros dez minutos porque, curiosamente, ninguém se conhecia. Depois foi ótimo. Passamos a jogar conversa fora. O ponto alto foi o discurso de Alan Arkin dizendo que ele nunca entendeu a ideia de competição entre atores e que aquele era um momento especial. Só o fato de estar naquele almoço já foi a realização de um sonho. 
ISTOÉ –
É verdade que foi Russell Crowe quem impulsionou a sua carreira? 
Hugh Jackman –
Sim. Ele me ajudou muito no início. Quando recusou o papel de Wolverine no primeiro filme dos X-Men, ele indicou o meu nome ao diretor da série, Bryan Singer. Sem esse empurrãozinho certamente não estaria aqui hoje. 
por Elaine Guerini, de LondresEdição 17.07.2013 - nº 2278




O DANO DOS ANABOLIZANTES

O DANO DOS ANABOLIZANTES


Pesquisa inédita revela que essas substâncias degeneram a saúde do coração, do cérebro e elevam o risco de morte súbita.

Pela primeira vez, a medicina conseguiu descrever o impacto provocado pelo uso de esteroides anabolizantes no coração e no cérebro. Em um estudo que teve duração de quatro anos, a cardiologista Janieire Alves, da Unidade de Reabilitação Cardíaca e Fisiologia do Exercício do Instituto do Coração, de São Paulo, avaliou 40 homens com idades entre 18 e 40 anos que assumidamente se automedicavam com doses regulares dessas substâncias havia dois anos. Essas drogas imitam o hormônio masculino testosterona e são usadas com a finalidade de aumentar a massa muscular e reduzir a fadiga.

Os prejuízos ao corpo são impressionantes. “Os usuários apresentam um risco cinco vezes maior de ter acidente vascular cerebral, parada cardíaca ou morte súbita do que a população em geral”, afirma a médica Janieire. As conclusões do trabalho serão publicadas em maio de 2010 pela mais renomada revista científica de medicina do esporte, a “Medicine & Science in Sports & Exercise”, do American College of Sports Medicine. “É um avanço mundial no conhecimento sobre a utilização desses compostos”, afirma Carlos Eduardo Negrão, que participou da pesquisa.

Os voluntários do estudo foram submetidos a testes de sangue e a exames para medir a capacidade pulmonar e cardíaca de oxigenar o corpo a cada quatro meses. Porém, essa exigência reduziu o número final de participantes. Só 12 fizeram todos os testes. Além disso, dois tiveram morte súbita e um ficou com câncer de fígado. Os exames revelaram uma preocupante redução do colesterol bom (HDL) e o aumento do ruim (LDL) e dos níveis de pressão arterial (leia mais no quadro), o que eleva o risco de entupimento dos vasos sanguíneos cerebrais e do coração.
A cardiologista Janieire também identificou uma intensa mudança no ritmo do sistema nervoso simpático, que regula a contração dos vasos, a aceleração dos batimentos cardíacos e a concentração do hormônio noradrenalina no sangue. Essas modificações aumentam o esforço do coração para bombear o sangue. “Há casos em que os músculos e áreas do próprio coração recebiam apenas 40% do sangue necessário”, diz a cardiologista. 
A associação dessas alterações aumenta as chances de insuficiência cardíaca precoce. O que os pesquisadores não conseguiram saber é se esses efeitos são reversíveis, com a interrupção do uso. “Não foi possível ter essa resposta porque os voluntários voltavam a tomar as substâncias quando sentiam uma perda de massa muscular”, lamenta Janieire.

A “BOMBA” É AINDA PIOR 
Nova pesquisa alerta para os perigos dos anabolizantes. E revela que eles podem levar à morte súbita de seus usuários
O efeito dos anabolizantes sobre o coração e o cérebro é muito mais perigoso do que se suspeitava. Pesquisa recente, coordenada pela cardiologista Janieire Nunes Alves, da Unidade de Reabilitação e Fisiologia do Exercício do Instituto do Coração, em São Paulo, revelou que os usuários dessas substâncias têm cinco vezes mais riscos de sofrer um derrame ou parada cardíaca. E que o uso de anabolizantes pode causar câncer e até levar à morte súbita.
Confira, abaixo, a entrevista exclusiva que a especialista concedeu a ISTOÉ Online.
ISTOÉ – Quem participou da sua pesquisa? 
Janieire Alves – Homens com idade entre 18 e 40 anos que tomavam essas substâncias havia dois anos. Para achá-los, eu fui a várias academias, especialmente a algumas em que se sabia serem pontos de consumo regular de anabolizantes, para perguntar quem gostaria de participar da pesquisa. Mas foi muito difícil conseguir voluntários. As pessoas têm muito medo de ser expostas. Eles só aceitaram participar com a garantia de sigilo absoluto de seus nomes. Um dos motivos é a sua participação em competições, pois o uso de anabolizantes é ilegal. Consegui 40 pessoas, mas apenas 12 fizeram todos os testes necessários.

ISTOÉ – Os testes de rotina, feitos por atletas, não detectam os anabolizantes? 
Janieire Alves – Detectam, mas há vários meios de mascarar esses resultados durante o período de competições. Para fazer nosso estudo, por exemplo, a sensibilidade do teste de urina feito inicialmente para atestar o uso foi aumentada dez vezes. Esses exames foram realizados em parceria com a professora Regina Moreau, no Laboratório de Toxicologia da Faculdade de Farmacologia da USP.

ISTOÉ – Como essas substâncias são ingeridas? 
Janieire Alves – Por injeção ou via oral. No grupo estudado, vi que o uso se dá em ciclos. As pessoas tomam por cerca de dois meses, depois param algum tempo e voltam quando sentem que a musculatura começa a diminuir.

ISTOÉ – Algum dos voluntários deixou de tomar anabolizantes depois de conhecer mais sobre os efeitos que essas drogas estavam provocando no organismo? 
Janieire Alves – Não. De todas as pessoas que participaram, apenas três aceitaram receber apoio psicológico para não usar mais. Um deles estava com sintomas iniciais de câncer de fígado, que é outro efeito colateral do uso constante dessas drogas.

ISTOÉ – Os anabolizantes causam alguma dependência física ou psicológica? 
Janieire Alves – Pude observar que a maioria dos voluntários manifesta um transtorno de imagem conhecido como vigorexia. Por mais musculosos que estejam, eles se vêem pequenos e, por isso, precisam ganhar mais massa muscular. É praticamente o oposto da anorexia, em que a pessoa se julga gorda, ainda que isso não corresponda ao peso apontado pela balança ou à imagem refletida no espelho.

ISTOÉ – Qual é a substância mais consumida? 
Janieire Alves – No grupo analisado, o estanozolol. É uma droga injetável, indicada para uso veterinário. Ela é mais consumida por ser mais acessível e de baixo custo. Promove a recuperação da musculatura dos animais. Mas existem dezenas de outras substâncias.

ISTOÉ – A musculatura obtida com anabolizantes é igual a conquistada com muita malhação? 
Janieire Alves – Nosso estudo mostrou que o ganho excessivo de musculatura, o aumento do tamanho do músculo cardíaco e alterações de pressão acontecem também com as pessoas que praticam musculação em alta intensidade, ou participam das competições de halterofilismo, porém em magnitude muito inferior àqueles que tomam anabolizantes. Na população estudada por nós, identificamos que há uma piora significativa da irrigação dos tecidos. Em testes para avaliar a capacidade cardíaca e respiratória, vimos que essas pessoas ganham força, mas não têm condicionamento ou resistência equivalentes.

ISTOÉ – Existe uma dose segura de anabolizantes? 
Janieire Alves - Os anabolizantes são substâncias análogas à testosterona, fabricada nos testículos. Se ela já existe em quantidade suficiente no organismo, doses adicionais inibirão a produção orgânica (natural). A questão é que as substâncias sintéticas não são aceitas da mesma forma que a testosterona natural por outras glândulas, o que inicia um desequilíbrio na troca de mensagens entre os hormônios que regulam os ritmos do corpo. Em consequência, isso leva aos efeitos indesejáveis. Na minha opinião, não se deve tomar se não existe carência provada em exames laboratoriais. O estudo que fizemos fornece sólido embasamento científico mostrando que, para o sistema cardiovascular, essas substâncias são muito deletérias. Elas agem, por exemplo, sobre a glândula supra-renal, estimulando a maior liberação de noradrenalina, que pode aumentar o risco de desenvolvimento de arritmias cardíacas (alterações do ritmo cardíaco), podendo levar até à morte súbita.

15/12/2009 - Revista IstoÉ   Jornalista: Mônica Tarantino